4 de novembro de 2015

Por que criei este blog?

Nunca fui de expor minhas opiniões sobre temas polêmicos, nem quando ouvi muitos absurdos em diálogos triviais no meu dia-a-dia. Primeiro porque eu me encaixava naquele padrão de quem prefere não se envolver em discussões, e segundo porque eu mesma aceitava muitas opiniões de senso comum.

Após concluir minha graduação em Videira-SC, entrei em contato com leituras diferentes daquelas que estava habituada e me identifiquei com essas novas ideias. Ouvi novos tipos de diálogos e descobri sobre os esforços de vários movimentos sociais na conquista de direitos, alguns dos quais já foram conquistados, sempre usufruí e nunca me importei. Com isso descobri o que deveria ser o óbvio: Que até então eu não sabia nem o mínimo sobre vários assuntos de extrema importância na minha vida e na vida em sociedade, mas caía no erro de achar que já sabia o suficiente. Em outras palavras, descobri que grande parte de minhas opiniões eram baseadas apenas em achismos.

achismo é talvez o pior erro da humanidade. Achar alguma coisa é muito fácil e cômodo, pois não exige de nós o esforço de procurar outras opiniões, compará-las e correr o risco de descobrir que estamos errados. Acreditamos que já sabemos o suficiente e assim cometemos um erro igualmente grave, que é o de propagar opiniões sem fundamentos e influenciar outras pessoas, também desinformadas, a achar que tais ideias são certas e que é assim mesmo que deve ser.

A afirmação "Eu não sei" é a frase mais sábia e ao mesmo tempo cada vez mais rara nos diálogos de atualmente. Julgamos que já sabemos o suficiente sobre todos os assuntos, principalmente os assuntos mais polêmicos. Ficamos fechados em círculos de opiniões superficiais, opiniões triviais e de senso comum, não aceitando conhecer aquilo que é diferente. O erro não está em não saber. O erro está exatamente em não saber e achar que sabe.

A criação deste blog foi motivada por um episódio que vivi em um grupo do Facebook de moradores da minha cidade natal, Fraiburgo-SC. O grupo é aberto e possui uma interessante descrição na qual dá as boas vindas a todas as pessoas que queiram participar de debates sobre assuntos em geral, mesmo os assuntos que não possuem relação com acontecimentos da cidade. Nesta página do Facebook, a maioria das opiniões são preconceituosas e discriminatórias a diversos grupos. Há até mesmo opiniões que atentam contra os Direitos Humanos e as liberdades individuais. Tais opiniões não são propagadas por trolls da internet, mas pela maioria dos participantes, entre os quais estão pessoas influentes do comércio e da política da cidade. Em resumo, considero um absurdo a forma leviana como temas importantes são expostos. Quando fiquei diante destes comentários pela primeira vez, eu, que nunca havia entrado em uma discussão, senti que não me posicionar seria mais absurdo ainda. Assim, resolvi intervir.

Tudo começou quando um participante (homem, branco) menosprezou um quadro de dados que expõe a baixa representatividade de mulheres, negros e outras minorias no Congresso Nacional. Expus, de forma detalhada e evitando achismos, uma série de dados e análise de contextos históricos que mostram que a baixa representatividade é reflexo de injustiças sociais, e que isso não é um assunto insignificante ou de menor importância. Esta pessoa, e mais outra (também um homem branco), responderam aos meus comentários de forma rasa, ignorando os dados que apresentei. Além disso, as respostas vieram recheadas de comentários machistas e racistas. No final acabei deletada e bloqueada do grupo, sem aviso prévio ou chance de me defender. Segundo informações que eu soube posteriormente através de terceiros, os dois alegaram que meu perfil era fake. Talvez eles não sejam capazes de imaginar que exista uma mulher com capacidade de contra-argumentar, ou talvez seja a forma que eles reagem quando não possuem mais argumentos. A descrição do grupo convida as pessoas ao debate de ideias. Na prática, o contraponto não é aceito pois, quando existe, é rechaçado de forma violenta.

Neste blog tenho a liberdade de apresentar informações que desconstroem os discursos de ódio e intolerância difundidos nessa página do Facebook. Acredito que este espaço é mais adequado para organizar todos os contrapontos e assim mostrar que sempre existe o outro lado da moeda, opiniões diferentes, visões diferentes, vivências diferentes. Também vou usar este espaço para expor temas relacionados a movimentos políticos e sociais sob perspectivas diferentes do senso comum, incluindo temas que analisam as intersecções entre esses movimentos (por isso o título do blog). Sei que estarei contrariando a opinião da maioria dos Fraiburguenses que porventura chegarem a ler esse blog. Por outro lado, creio que, quando nos incomodamos com o trabalho de analisar posicionamentos de forma mais ampla e sob diferentes perspectivas, temos mais chances de nos libertar de individualismos e preconceitos.

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